domingo, 23 de abril de 2017

excuse you!

para Johanny Cássia

continue firme como uma moita de capim em uma tempestade de raios

calma pequena, que a tarde falha mas não amanhece

quando teus olhos trovejarem o clarão de um dilúvio, lembre-se que todo reflexo é uma caverna cinza nas solas de uma madrugada azul

calma pequena, que o karma tarda mas não dharma

quando o sol te entediar
ou
o teto te tentar

calma pequena, que a lucidez é a porta da insanidade, e o óbvio é o obstetra do mistério

e se nada disso te acalmar
lembre-se que sua solidão jamais estará sozinha
se ela for grande o bastante para encostar na minha.

ray cruz

quarta-feira, 19 de abril de 2017

todo prazer é um cronicídio.
      ninguém goza olhando pro relógio. durante a volúpia nos divorciamos e nos apartamos do tempo, em uma falsa impressão de eternidade advinda da intensidade de nossas sensações, pensamentos sentimentos e emoções.
     porém tal impressão apenas comprova a efemeridade de quaisquer vacas gordas e a diluição daquilo que me estrutura em um narcisismo cronológico que precede e transcende qualquer cronocídio, desde o orgasmo a pala do beck.
      rir, gozar, é quebrar um milhão de relógios nas algibeiras do inconsciente.

ray cruz

segunda-feira, 17 de abril de 2017

feat ad infinitum

para Gabriel de Jesus 

e se novamente a vida te mostrasse que o caminho é fechar os olhos como um legista fecha uma gaveta
recheada da carne mais barata do IML?

talvez a vontade da espécie
não soasse assim meio torta
tipo remix de um chorinho inelutável

romper o casulo do ego
renascer como garoto feliz construindo castelos orientais na caixa de areia do grande Leão de Judá

nem o deserto que aquece teus passos traça um horizonte potável

no principio
o paraíso era formoso e vazio
deus bailava na face das dunas

agora a fumaça
santifica tuas caretas

salvo
a salvação
o resto há de ser filado
em mantras fagocitados
no hino do mengão
em cavernas úmidas
tralhas e tragos
goles e golens

ruminando-se
um dia após o outro
boi preguiçoso puxando um carro quebrado

mira chico¡
olhar é um gatilho
a oquidão do banzo alforriado.

ray cruz

domingo, 9 de abril de 2017

misto quente & lava jato

descalço ponteiros
no acostamento

guardanapos
desdobram meu câncer

descasco fraldas
no pote de cuspir
medúlas

ninguém
pediu a conta
muito menos
um pires voador

desmamo
umbíguos na órbita
de vitrines trincadas

mastiguem bem
os nervos e o couro
com os dentes dóceis

desovo arrotos
nos pratos de pano
nos panos do chão

o senhor prefere
pagar com o tronco
ou com o porão?

descarno papilas
lambendo os calcanhares
de um escudo lascado

decapitem meus pés
estou pronto para salgar
o que restar do apêndice
de um orvalho peçonhento

destripo meus cascos
álcool em gel
spray de pimenta

salivei garfos cegos
e sobrevivi para
a peleja das colheres

destrincho meus olhos
coração
mal
passado

amar a pedra na mesma medida que o deserto ama a montanha
até minha sombra parir
outro sacrifício
para as moscas
que ocupam
a sala de jantar

derreto meu fígado
quem não frita
está frito

até vender minha alma unigênita para espantar as moscas ocupadas da sala de jantar

desosso meu léxico:
em terra de gume
quem tem cego é são!

ray cruz

apenas um beijo

um tapa
doce sangrando
a carne fresca
sem temer
a vingança do lilás

um golpe
constituindo
o vermelho
de uma escolha paralítica

até o início trotar
um mandato de busca e apreensão
nos conteiners roucos
de um passo febril

contorcionismo que vegeta
nas estribeiras de um intervalo sulfogênico

mãos que escalam cordilheiras bipolares
em busca de uma bandeira
encravada na incubadora
da maternidade enevoada
de um claustro em chamas

um soco que se contrai
na traquéia e sopra suas asas
na sobrevivência mal-passada
de um epitáfio para colorir

segundos que corroem a ponte
e se apossam da superfìcie
de todas penas que dançam
celebrando a chuva romana

vislumbrei meu pâncreas
perdido entre piratas
apostei todas as minhas fichas
na ligação seguinte

e costurei-me ao leito informe de um NÃO úmido

devorei os braços
que embalavam
meus joelhos hipodérmicos

congratulei os chutes
que acariciavam meus cacos

apertei o ranho
que mimetizava
meus vincos diáfanos

recolhi outdoors
nos trilhos de um parapeito tuberculoso

antes a aura estática
que ruminava meus pelos ingênuos

até os galhos entronarem
o bug que roeu
o estopim do respiro
entrecortado
por
soluços sibilantes

até tu meu verdugo preferido
até tu, oxigênio de meu arfar claustrofóbico

NÃO! eu farejo entre o pó e as nuvens:
todas as lendas fofocam sobre meu almoço

então,
querido,
apenas não se curve,
o resto é uma questão matemática
que separa uma lâmina gentil
deste pescoço revoltado
com o fardo continental
de uma noite enclarecida

então querido,
não tenha pressa
por trinta moedas
até a morte tarda
mas não falha

então, querido,
sugue até a última gota
meu sangue é vosso cálice
até a forca
e
a eternidade
amém.

ray cruz

i'm the horseman in the big chess board

normalmente sereno ou selvagem. quase sempre 8 ou 80.
resiliente, porém condenado ao mesmo movimento monótono, alguém que luta consciente de sua derrota ante a possibilidade de alvejar alguma liberdade.
paradoxal?
nem nobre, nem guerreiro (da infantaria não naturalmente), nem plebeu; o cavalo símbolo da agilidade e da força é a fusão entre os movimentos máximos da peça mais importante do jogo e da mais ordinária; o peão e o rei, talvez respectivamente...
medida de potência.
enfim, o cavalo ainda é um símbolo, embora já muito explorado, ainda rico e lastimávelmente ou felizmente condenado ao L (leia-se tanto personagem de Death Note, quanto inicial de Loser ou de Light ou de Low ou de Linguagem ou de Ló ou de Loki ou de Lie ou de Lúcifer ou de qualquer outra coisa)...
o cavalo é absurdo, instinto domésticado do Id pelo Superego e ainda sim, viril (leia este substantivo de forma nietzscheana) e consciente de suas limitações impostas pela natureza e pelo ambiente... ainda capaz de transitar em casas de polaridades diferentes, versátil e útil em emboscadas, simultâneamente hiper vulnerável para ciladas adversárias...
é preciso imaginar um cavalo sorrindo, após um dia árduo de aragem, é preciso imaginar um cavalo feliz sendo alvejado no meio do fogo amigo, é preciso imaginar um horseman no navio negreiro cochilando sereno...
é preciso ser um cavalo e abraçar o zen com os cascos fortes e uma ferradura da sorte (em brigas e coices) é preciso trotar no asfalto e ignorar as chicotadas, é preciso relinchar alto, ou ser um garanhão, ou pastar o dia todo... é preciso equinar para não se matar. eu seria um cavalo em um enorme tabuleiro de xadrez, ou talvez eu seja um cavalo.

ray cruz

sábado, 8 de abril de 2017

esboço para uma fenomenologia patafísica 0 (shunnya)

saber;
um túnel escuro profetizando
um guia cego

apenas cave!
cave
&
cavi!

vivisseque
qualquer coisa
&
encontre
qualquer abismo

"alimente os passáros imaginários"

encontrarás a si mesmo,
como um caminho
no meio da pedra,
um planeta
dentro do caroço,
&
um EU
chocando no âmago do planeta...
cave pequeno imundo,
cave,
que todas as filosofias
não passam do cosplay amateur
de um tatu gripado

nada é mais raso que um espelho
nada é mais profundo que o desconhecido

eu reencontrei o Tempo
mas o perdi em algum de meus buraquinhos espelhados e tripofóbicos

respirar é perder
perder é perder-se

agarre o ponto de interrogação no final da resposta
prenda e respiração
&
entregue sua síntese ao mundo
<descarga>
olvide todo o passado que adorna este presente
[memento j.o.v.e.m {jocus omnia vincit et more}.?.]

"buck dich!"

sugo orouboros entre meus hashis <palitos de dente>
folheio o farfalhar do spleen

jejeje

qual amigo vai me socar primeiro?

("WOMEN AND CHILDREN FIRST!")

vamos, não vai doer em mim
"nem toda sarrada tem sentimento"

#bitchplease

0101010101110001110101
interrompemos esta programação
/(.) (.)\
problemas técnicos
&
um rombo orçamentário no meu sistema nervoso central

continuo escavando e descascando
como alguém fatiando uma hidra para a salada vegana de um food truck na 206 norte

a rainha da decadência dançando no cascalho recém capinado as 11:55 no jardim de um velho vermelho no Guará II

[você masturbando esta tela preta em suas palmas brancas]

cava logo essa porra!
{vai começar a feder}
arranca logo essa privada
porque a minha
minha boca
grita
até calada

<madrugada destilada em pequenas picadas>

talvez eu consiga matar o espelho
(causa mortis: infarto agudo do miocárdio após um close horroshow)
talvez a 3° pessoa do plural me fagocite
ou
talvez eu volte pra capoeira e te envie meus olhos em uma caixinha amarelo-canhâmo.

ray cruz

angst

uma Hiroshima desabrocha em mim
SIM, agora o Holocausto é meu amante
e ninguém vai ressucitar a deusa
antes do véu se rasgar num gozo triplo.

ray cruz

"quer uma bola? eu tô de boas"

o novelo de chumbo
que coroa meu pescoço
reinvidica demissão
por justa causa

calço o esgoto
em que chafurdam
os espelhos
do meio do caminho

a bruma fria
que me cobra
repreende
meu delírio enfadonho
colher seixos
na noite primitiva
recolher vacuidades
no vão
entre o ser em si e o ser para si

termocionalmente implodem-se todos os grãos que mosaicam em uma melodia psicótica o cerne da minha sombra seca: a monotonia da alucinação (in) coletiva

os cervos acenando nas dunas de um silêncio ocular olvidado na amálgama dos séculos

teu timbre úmido pulverizando minha obselescência programada

retalho
amasso
esmago

a névoa que me cinge a lucidez que precede outro reigicídio mental

comprimo-me
mas não me engulo

se você fosse uma peça de xadrez
seria um cavalo

entabulo
meus cacos
em outras
fraturas temporais

danço
sem abdicar do meu ódio por todas as pessoas egocêntricas que ousam me macular com um toque inexorável no meio de um busão lotado

não, não estou fritando
já me queimei na pira
desta nostalgia paradoxal

apenas agarro
apenas ofego
apenas nego

estou farto de estar
farto de se fadigar

repito o mantra:
eu tô sempre dopado

ele caminhou lentamente em sua própria ausência, pariu assentado no medo o mais feio dos golens, maquiou-se com comerciais imperativos, mutilou-se com gargalhadas surdas e sussurrou:
i'm a loser
so why don't you kill me?

só pra frisar o óbvio:
eu tô sempre dopado
&
a sociedade é uma fantástica fábrica de suicídios

ray cruz

terça-feira, 4 de abril de 2017

sonata das traças

soluçar soluções
voláteis
cremar
camisinhas

apto para preencher
a última vaga remanscente
eu: idiota multifuncional
sei que a ferradura
em minha mochila
trará sorte
pelo menos
em uma briga

momentos
arranhados
ecoam

minha sombra
gravidade cega
de meu ego nomâde

colho o farfalhar das nuvens, cavalgo o vulgo informe com a avidez de um beduíno seco,
SIM
abraço o mundo com as unhas lascadas, e lavo os olhos com um habeas corpus translúcido

atravesso a fome rumo a sede
o badagar da sina
martelando as horas

trago
turbo
nego, porém não encubro:
a liberdade é uma queda sem fim em si mesma
ser é uma dança surda eclodindo nas estepes de um uivo fanho.

enrolar horizontes
verticalizar bueiros
dropar o real

até o banzo
asfixiar o medo
até o medo
sacramentar
o sono
até o sono
acordar o pesadelo
até o pesadelo ancorar
a língua
até a língua embriagar os pés
até os passos
estraçalharem
as profecias

"a resposta para o niilismo é o zen, por isso Julius Rock seria um ótimo professor de matemática, saca? a apreensão instintiva e irreflexiva da realidade, o humor paradoxal e a morte autotrófa do ego"

ainda não
e nem antes
e nem após

apenas
&
talvez

a apostasia de cada meta reificando todas as penas coloridas de um espelho inflamável

ray cruz

domingo, 2 de abril de 2017

carta aberta para Nasrudim

a cada minuto
fito teu anel
acorrentando meu pescoço,
nunca mais
conjugarei, em primeira pessoa,
aquele maldito verbo intransitivo.

todo mundo escorre,
para longe,
como tapetes sangrando,
sem culpa.

evaporo no caroço
chuto o que há,
entre minhas pernas.
o espelho, não, pode me afogar
enquanto eu espelhar a manada?

ouço a sinfonia em riste;
todas as almas penadas
gemendo em cada metro do metrô.

mesmo, sem empúlpitar o óbvio, choramos e mentimos,
lady lazarus se equivocou.
o amor é um eclipse
&
você...
você é minha sombra
ecoando, escoando, ecoando...

apenas nossas dúvidas eram recíprocas.?.

meus dedos queimados espremendo tuas chagas, tua presença ausente farejando cada passo que enraizei nas nuvens. não preciso repetir este segredo: só continuamos no palco por odiar a platéia.

 
ray cruz

sábado, 1 de abril de 2017

candiru

com certo receio de cair entre o bar e a esquina, ele cambaleou até a música brega da jukebox simular um suicídio passivo. longe o suficiente para materializar a solidão que o preenchia no boteco, deslizou os dedos trêmulos sob a tela do celular até localizar o nome dela.

"oi, aqui é a Liza, deixe seu recado após o sinal, mas se for o Rodrigo, vai se foder. bipe."

"oi, cê sabe que sempre te contei tudo né? sabe aquela viagem? constantemente me lembro da garotinha vomitando uma sopa grossa e amarelo amarronzada na balsa que atravessou lentamente o rio Santo Antônio. naquela hora eu lembrei de tu. lembrei que queria ser um peixe. parece um daqueles segredos óbvios, mas os peixes não tem pálpebras. acho que eles nunca dormem. eu queria ser um candiru. acho que os peixes também não sabem chorar..." seus amigos logo sentiriam sua ausência. ou a ausência da escama. descobririam o banheiro vazio. mas ninguém o encontraria facilmente naquela esquina há três quarteirões de distância. a lua cheia brinca de pique esconde com as estrelas. onde há fumaça nem sempre há fogo. ou talvez toda a cerração tenha origem em uma alma que arde congelada por seus maiores medos. elas sempre avisam antes: "eu te amo" sempre soou como um eufemismo para "adeus filho da puta, acredite ou não eu sinto muito." em outra noite tão clara e sombria quanto esta, sua mãe partiu de casa, como das outras vezes, com sua bolsa enorme e um olhar sorridente. dez anos se passaram e ela nunca mais voltou para ser espancada. em outra noite como esta, ele foi expulso de uma balada, perdeu dois dentes no punho do leão de chácara, momentos depois de vomitar nos seios de uma stripper. suas mãos parecem uma moita de bambu no meio de uma tempestade, enquanto ele acende uma estaca pra relaxar e continuar o desabafo.

"...preciso aprender a esquecer. deviam inventar uma droga que causasse surtos de amnésia seletiva. eu me lembro da primeira vez que ouvi falar em um candiru. 5° série. entre as aulas cabuladas e as apalpadas nas bundas e nos seios em fase de crescimento das colegas de classe, meu amigo nerd do Lado Negro da força, Igor, era viciado em documentários sobre a natureza. sozinhos no mictório do banheiro da escola, ele me falou do demônio das águas amazonenses. mais temido que qualquer piranha, o candiru, o peixe-vampiro é um pequeno parasita das águas que ataca banhistas despreocupados. atraído pela urina ele penetra nos orifícios genitais ou no ânus. se alimentando do sangue de seus azarados hospedeiros, através de pequenos cortes. o candiru só pode ser removido com uma cirurgia nada agradável. suas nadadeiras se prendem na carne como ganchos. provocando hemorragias, infecções e a morte, caso não extraído com urgência. Igor me contou tudo isso com os olhos arregalados. ele devia saber sobre o complexo de castração. sempre tive dificuldades para fazer xixi na frente de outras pessoas. quando ele terminou de contar, eu consegui começar. Igor sempre foi pertubado, mas eu nunca imaginaria que ele faria aquilo. você nunca imagina que enquanto se concentra olhando pro espelho, seu amigo esquisito vai te contar sobre o canero e mentir que alguns peixes viajam centenas de quilômetros pelo encanamento. eu jamais poderia prever nada disso. eu entrei em choque quando Igor rapidamente apertou meu pau com a mão. me arranhou com as unhas, depois de alertar sobre o candiru e me falar para tomar cuidado. eu entrei em choque, enquanto ele gargalhava alto. nunca mais urinei em banheiros públicos. sempre encontro uma árvore sedenta por perto. falando em banheiro, hoje quando eu tava banhando eu percebi que tenho estrias na bunda. ninguém jamais deveria olhar a droga da própria bunda. talvez o primeiro homem capaz de se odiar tenha sido o infeliz que descobriu que o outro infeliz refletido em uma poça de água na verdade era apenas a representação de como as pessoas lhe enxergavam. se os deuses existissem eu aposto que eles jamais se aproximariam de um espelho. ou pelo menos manteriam suas partes mais semelhantes a uma bunda bem longe dos próprios olhos..."

quem nunca usou a caixa postal como divã? é só esquecer que alguém receberá a mensagem. é mais saudável que amigos imaginários. e mais caloroso que um diário. a regra número 33 do rolê é: nunca confie em companheiros de copo. eles podem te crucificar. "que vontade de fuder garota eu gosto de você fazer o que? meu pau te ama!" um grupo de jovens bêbados cantarola alto enquanto caminha na direção oposta. ele encosta o celular na bochecha para abafar a indesejada trilha sonora e continua:

"...essa ganja era da boa hein!? o que eu to falando mesmo? queria mesmo era dizer que a garotinha vomitando o líquido amarelo amarronzando, me fez querer ser um peixe. me fez lembrar do dia em que tu deu aquele P.T e não queria que eu percebesse. te levei pra casa e quando a gente se despediu eu te beijei momentos depois de tu vomitar. e porra! eu amei aquele beijo agridoce, queria que não acabasse nem com o tão esperado fim do mundo. acho que foi ai que eu percebi que te amava ou amo. sei lá. e que queria ser um candiru. se eu fosse o caralho de um candiru eu não estaria ouvindo o barulho da garoa como uma marcha funébre, nem sentiria a catinga de todas as minhas esperanças em estado avançado de decomposição. eu queria ser um candiru. se eu fosse o caralho de um candiru, eu jamais sairia de sua boceta. boa noite Liza."

alguém se aproxima. Igor, o amigo de Rodrigo traça um zigue zague na calçada com passos mais tortos que o olhar de um gambé.

"onde é que tu foi?"

"tava no telefone."

" e a escama?"

"só tinha um teco. cheirei."

" aham, to ligado filho da puta." Rodrigo sentou e ao lado de um bueiro e esquadrinhou seu all-star imundo. Igor notou a bad vibe e deu uns tapinhas nas suas costas.

"vem logo! Rodrigo! sai desse telefone cara! vamo beber!"

"me espera deitado no meio da rua."

"era a Liza né?... esquece ela velho."

"não quero."

"então fica aqui se molhando, ou melhor, vai escrever poeminha de amor otário."

"vai tomar no cu!"

Igor revirou os olhos: "quem tá tomando é você. não caias na perdição. nenhuma boceta vale um verso, muito menos um coração."

ray cruz